
Tristeza na ciência brasileira. Passada a incredulidade, a sensação do “Não, isso não é possível, você só pode estar brincando…”, começa-se a aceitar a realidade inverossímil. Apenas doze dias após o falecimento de um dos pioneiros da genética brasileira Warwick Kerr, presidente da SBPC entre 1969 e 1973 e duas vezes presidente da Sociedade Brasileira de Genética – SBG (1964-66 e 1994-96), lamentávamos novamente ontem o inesperado falecimento de outro grande geneticista. Outro cientista da Amazônia que, coincidentemente, também fora duas vezes presidente da SBG: Horácio Schneider.
A precoce partida de Horácio, por quem tínhamos todos um enorme respeito e apreço, repercutiu nacionalmente. Biografias foram publicadas, elencando sua extensa contribuição para a ciência nacional e ressaltando seu espírito humano marcante. Nos relatos, um importante detalhe de sua trajetória: foi orientado pelo grande Francisco Mauro Salzano, tanto no mestrado como no doutorado, no vizinho estado do Rio Grande do Sul. Mal sabíamos que, poucas horas depois, no mesmo dia 27 de setembro, faleceria seu mestre, ocupante de variados cargos da SBPC durante mais de 30 anos e, vejam só, também presidente da SBG por dois mandatos. Conversando pela manhã com uma colega geneticista de Porto Alegre, ela dizia estar em choque. A notícia não parecia notícia, mas sim ficção ou lenda.
Vários geneticistas catarinenses, além de terem sido formados direta ou indiretamente por Horácio e Salzano, nutriam um especial afeto por ambos. Em 2018, quando Horácio completava 70 anos (mesma idade da SBPC, da qual foi Conselheiro e Secretário Regional), Salzano completava 90, sempre ativo, crítico e solícito, incomparável em seu carisma. Ambos estão sendo sepultados hoje, um no norte outro no sul, um em Belém, outro em Porto Alegre. Hoje nossa homenagem é múltipla, mas especialmente dirigida aos gigantes da genética brasileira que partiram nas últimas vinte e quatro horas, os Professores Salzano e Horácio. Mas não deixamos de lembrar e homenagear, mais uma vez, outro ex-presidente da SBG, o geneticista das abelhas Warwick Kerr. Juntos, os três dirigiram uma das mais antigas sociedades científicas brasileiras por doze anos. Os geneticistas brasileiros perderam, em menos de duas semanas, três “heróis”. Dois num mesmo dia, num país onde heróis, que pensam e ensinam a pensar, são tão escassos. Como é triste a morte de imortais…
.
André Ramos, Secretário Regional da SBPC em SC